Bell (1985), em seu livro “Holy Anorexia”,
cria um paralelo entre o comportamento de
250 mulheres
santas ou beatas da Igreja Católica,
que teriam vivido entre 1200 e 1600,
com a anorexia nervosa,
o que ele denomina
de anorexia sagrada.
Não há possibilidade de se fazer essa analogia,
pois não existem
alguns critérios fundamentais
para o diagnóstico através dos relatos
antigos,
Não há o medo mórbido de engordar.
Não há a imagem gorda refletida no espelho.
O paralelo
proposto por Bell,
é semelhante ao se afirmar que os Bororo
sofrem de
transtornos alimentares,
principalmente bulimia,
por causa de seus rituais de
vômito,
sem
considerar que são atos culturais
e vistos como técnicas de purificação.
Fazer isso é se
afastar ainda mais
da possibilidade de definição
da etiologia da síndrome,
prejudicando
o próprio tratamento.
Esses artigos relacionam as santas medievais com a
anoréxicas atuais, a partir do trabalho de Rudolf Bell sobre a vida de 250
santas da Igreja Católica, desde o séc. XIII, e do artigo Santa Rosa de
Lima: un análisis psicosocial de la anorexia nervosa da psiquiatra
chilena Rosa Behar. Ambos autores, com sua analogias, influenciaram vários
outros trabalhos, levando a crer que a influência da modernidade na origem dos
transtornos alimentares é relativa. Essa associação é um grande equívoco, pois
desloca a-historicamente conceitos, sem levar em consideração fatores
fundamentais, incluindo os próprios critérios diagnósticos para a anorexia. O
principal é totalmente ignorado, pois não há a presença da distorção de imagem
na biografia das santas. Apesar da ressalva da própria Behar, que afirma que
"descrever Santa Rosa como 'apenas' anoréxica' seria cair em um mero
reducionismo de desacreditar em sua especial qualidade e fervor místico",
seu trabalho é levado em consideração, afastando ainda mais a possibilidade do
encontro da verdadeira etiologia dos transtornos alimentares.
Uma Santa Anorética.pdf
Fundamentos Históricos.pdf